Lisboa, sábado à noite
A plateia do Teatro Villaret já conheceu noites mais concorridas. Poucos, mas bons e preparados para rir... muito! Durante 1h30m, José Pedro Vasconcelos e companhia (Miguel Melo, Margarida Gonçalves, entre outros) entregam-se de corpo e alma a uma sátira divertida e mordaz q.b sobre o homem que mergulhou Portugal numa ditadura de meio século: António de Oliveira Salazar. De Seminarista a Ministro, de Presidente do Conselho a tabú nacional, trata-se de uma personalidade emblemática da história portuguesa, odiada por uns e idolatrada por outros. Uma comédia visual/musical que dá cor a uma figura cinzenta sobre a qual se sabe muito pouco: Salazar fuma, canta, dança e é um romântico apaixonado pela sua governanta, Maria, sexy e enérgica. O ditado popular não mente: "por trás de um homem, há sempre uma grande mulher". Maria não foi excepção e o Palácio de São Bento era, afinal, comandado pelo seu pulso de ferro, não esquecendo a acção do temível lápis azul.
No palco, há cadeiras de todos os tamanhos e feitios: pequenas ou grandes, velhas, clássicas e modestas, servindo para dar descanso a alguém que foge delas a sete pés.
Na plateia, há rostos que relembram tempos vividos que não voltam mais ou há quem tenha contacto com uma realidade (muito) distante, imortalizada nas aulas e livros de história.
Volvidos 29 anos depois da sua morte, o ditador parece estar na moda uma vez que foi a figura eleita pelo concurso da RTP, os Grandes Portugueses. Salazar - The Musical dá a conhecer a faceta oculta do estadista que Portugal não esquece. Para tal, é necessário ser portador de um bilhete, sentar-se nas poltronas do Villaret e dar algumas gargalhadas porque rir é o melhor remédio para esquecer alguns episódios menos felizes. Segundo o cartaz da peça, "se não vieres ninguém te censura"... Eu fui!