... viajei até à Inglaterra aristocrática do século XVIII e convivi com uma família dos anos 50 nos Estados Unidos da América. Tudo isto no mesmo dia... uma maravilha proporcionada pela sétima arte.
Keira Knightley brinda-nos com uma personificação de Georgiana Spencer (1757-1806), Duquesa de Devonshire, que era idolatrada pelo povo e indiferente apenas para o seu marido - o Duque de Devonshire (Ralph Fiennes) -, bela e carismática, com gostos extravagantes e apetites por jogos, tornou-se um ícone da moda, uma mãe devota e uma astuta figura política. O sorriso aos demais era a sua imagem de marca, um escape, para esconder a tristeza e solidão que lhe ia na alma devido ao casamento com um homem distante, adúltero, frio, possessivo e egoísta, que queria apenas um filho varão. É notório o paralelismo com Diana Spencer (1961-1997), a Princesa de Gales e do povo, integrando a mesma linhagem familiar.
Um filme que espelha a mentalidade leviana da época: o marido podia cohabitar com duas mulheres na mesma casa, sem qualquer problema. Já Georgiana foi impedida de ser feliz ao lado do amor da sua vida, Charles Grey, em prol da moral dos bons costumes, vivendo uma vida de sofrimento e infelicidade.
Felizmente, tudo é diferente dois séculos depois...
... não tem nada de revolucionário, mas é um filme inquietante e neurótico q.b.. A realidade, nua e crua, de muitos casais que levam uma vida perfeita aos olhos da sociedade: casam, têm filhos e assentam, adiando os sonhos de outrora em prol da família. Escolhas que se fazem, pensando no plural e não no singular. As aparências iludem, a rotina instala-se e corrói o mais feliz dos matrimónios. A vida resume-se a um emprego - das 9h às 5h - que abominamos, os objectivos (leia-se sonhos) deixaram de existir e as discussões estalam a toda hora porque a felicidade deu lugar à inércia.
A acção tem lugar nos anos 50, mas saimos do cinema com a sensação de um dejà vu pertinente no nosso tempo. As interpretações de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet são notáveis e demonstram que o Titanic (versão cinematográfica) foi ao fundo na década passada. Este drama intenso de Sam Mendes, baseado no aclamado romance de Richard Yates, já quase todos o viveram, vivem ou viverão ainda que com desfecho diferente. Mais uma vez, a sabedoria popular assenta que nem uma luva: quem vê caras não vê corações!
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